Arquivo para Tommy

the wall

Posted in canções fundamentais, musique non stop, nonsense with tags , , , , , , on 23/03/2012 by coelhoraposo

Outro dia um amigo publicou no facebook que o The Wall era o melhor álbum já gravado. Apesar de adorar listinhas (como fiz com a série: “os 25 álbuns que mudaram o (meu) mundo“) e coisa e tal, tenho sérias restrições a esse tipo de afirmação.

Pink Floyd nunca foi o meu forte, apesar do apelido que tinha no segundo grau (por causa de um boné da banda inglesa que eu usava com certa frequência). Tanto é que quando começo a cantarolar “Another Brick In The Wall – Part II“, sempre me vem à mente o Falcão cantando “hey, chica! Deixa o gato em paz!” (Amolda o bicho na parede – parte II). Ou ainda, acabo sempre emendando “Eyesight to The Blind“, do clássico-mor do The Who, a ópera-rock Tommy, de 1969.

Com a turnê de Roger Waters executando The Wall em sua integralidade chegando ao Brasil, comecei a ter comichão para querer ter essa experiência pinkfloydeana. Mas, a razão falou mais alto e decidi nem pensar mais a respeito.

Se acertei em deixar passar o Waters dessa vez, ainda não sei. Mas em minha próxima ida a Rio Preto da Eva, município a menos de 100 km de Manaus, procurarei assistir o Pink & Floyd para tirar a prova dos nove:

os 25 álbuns que mudaram o (meu) mundo – parte 5 de 5

Posted in listas, musique non stop, os 25 álbuns que mudaram o (meu) mundo with tags , , , , , , , , on 01/07/2011 by coelhoraposo

Movido por uma espécie de necessidade de auto-conhecimento, decidi há longínquos 12 meses relacionar aqueles álbuns que foram pontos de mudança na minha vida. Depois dessa longa jornada apresento a quinta e última parte da listinha dos 25 álbuns que mudaram o mundo, o meu mundo, pelo menos.

*  *  *

Songs for the Deaf, 2002 – Queens of the Stone Age

 

Seria impensável eu fazer uma listagem dessas sem colocar algum álbum do Queens of the Stone Age, ou simplesmente QOTSA, banda liderada pelo magistral Josh Homme que tive o prazer de conhecer por intermédio da minha queridíssima salve-salve Lisa, companheira de tantas aventuras da minha vida. Foi difícil escolher um álbum específico do QOTSA porque acho todos eles fantásticos, mas com certeza este aqui é o mais coeso de todos e faz o que poucas bandas fazem atualmente com maestria: rock’n’roll da melhor qualidade sem frescura, firulas ou concessões.

 

Quase todo esse disco é composto por parcerias entre Homme e o baixista Nick Olivieri (aquele mesmo que ficou peladão no show do Rock in Rio 3). A banda-base é formada neste disco por Mark Lanegan (Screaming Trees) nos vocais, o fenomenal Dave Grohl (a alma do Nirvana, segundo muitos) na bateria, além de Josh Homme na guitarra e Olivieri no baixo.

Não tenho muito a dizer aqui, só que este foi o álbum que me reapresentou ao mundo do rock atualizando minhas referências roqueiras para o século 21. Aqui, menos é mais!

Tender Prey, 1988 – Nick Cave And The Bad Seeds

 

Quando começam os primeiros acordes da guitarra do alemão Blixa Bargeld em The Mercy Seat, faixa que abre Tender Prey, rapidamente me transporto para uns 20, 21 anos atrás: SQS 106, Twin Peaks na TV (depois do Placar Eletrônico ou do Fantástico, não lembro bem), sessões domingueiras no Cine Brasília e, especialmente, Asas do Desejo, de Wim Wenders. Lembro da minha mãe falando baixinho pra mim: essa banda que está tocando no filme é aquela do disco que estava ouvindo mais cedo…

 

Esse foi meu primeiro contato com Nick Cave And The Bad Seeds, banda liderada pelo australiano Nick Cave e que neste álbum encontra seu auge, mesmo que a banda tenha álbuns antológicos como Let Love In, de 1994; The Boatman’s Call, de 1997 e mais recentemente, o duplo – em todos os sentidos – Abbatoir Blues/The Lyre of Orpheus, de 2004, já sem Blixa Bargeld.

As canções bem produzidas são de uma maturidade sonora poucas vezes ouvidas no rock. As letras inspiradíssimas de Cave, são um deleite à parte. Enfim, Nick Cave And The Bad Seeds é umas das melhores bandas surgidas na corrente do pós-punk, mas muito melhor… É uma pena que seja tão pouco conhecida, se comparada com sua importância e qualidade.

Tommy, 1969 – The Who

O álbum conta a história do menino que, ao presenciar a morte do padrasto pelo pai recém-retornado da primeira guerra mundial, fica surdo-mudo e não é entendido, é constantemente vítima do bullying (a palavra da moda!) do primo Kevin e do assédio sexual do tio Ernie, que encontra numa mesa de pinball sua redenção e seu meio de comunicação com o mundo que o cerca, se transforma numa espécie de guru, um novo messias que logo passa a ser objeto de adoração e de rentabilidade para a família e que, perceber isso, manda seus seguidores o rejeitarem e perceberem o caminho da iluminação não está nos gurus de plantão, mas sim em si mesmos.

Tommy é um libelo contra a opressão, seja ela física, social, política, moral e espiritual. Canções maravilhosas e clássicos instantâneos do rock’n’roll como a imortal Pinball Wizard (que reza a lenda nem fazia parte do disco, mas que foi incluída para agradar um crítico da revista Rolling Stone). Enfim, um álbum que dispensa apresentações.

Urubu, 1976 – Antonio Carlos Jobim

Com o golpe militar em 1964 e a necessidade lutar contra o regime imposto pelas armas, a arte e a cultura de massas foram vistas por muitos intelectuais e artistas como uma das principais trincheiras de resistência. Para isso, era preciso rejeitar o que era “passado”. Some-se a isto o fato da ascenção do rock e da jovem guarda. Pronto, está pronta a fórmula que classificou a Bossa Nova como algo retrógado, “de burguês”, comodista e que não tinha valor político. Com isso, muitos de seus expositores foram do céu ao inferno, taxados de despolitizados, entreguistas, adoradores dos EUA etc. Naquele momento era “caminhar e cantar e seguir a canção” ou era ser um conformista que fala da “onda que se ergueu no mar”. Não tinha meio termo. Ninguém entendeu o que Tom Jobim e Chico Buarque quiseram dizer em Sabiá, o Maracanãzinho inteiro vaiou a canção: queriam algo didático, direto. Assim, a principal mente criativa do que se convencionou chamar de Bossa Nova, foi obrigado a partir para um auto-exílio nos EUA.

Foi nesse período em que ele se consolidou como um dos maiores nomes da música mundial, gravando, compondo. Mas isso não era o bastante: precisava desse país que ele chamava de seu mesmo sabendo que aqui não é o paraíso na terra. “O Brasil não é para principiantes”, afirmou certa vez, mesmo assim, tudo o que produzia o remetia à terra mãe. Este Urubu, sintetiza toda essa busca infinita pelo carinho materno da pátria. Só que Jobim dizia isso em acordes e em harmonias perfeitas, não mandava pegar em armas, estimulava uma emancipação pautada no belo e no amor coletivo pela sua nação. Esse foi seu grande pecado.

20 Preferidas, 1997 – Tom Zé

Quando se fala em Tom Zé, logo se fala do genial Estudando o Samba (1976), da capa antológica de Todos os Olhos (1973) ou ainda Com Defeito de Fabricação (1998), a volta triunfal de Tom Zé pelas mãos do talking head David Byrne. Mas existe um álbum meio esquecido na obra de Tom Zé, raríssimo de achar seja em vinil ou CD (sim, existe uma prensagem em CD): trata-se de Tom Zé (1970). Este álbum poderia ser encarado como o resultado de exercícios de composição que preparavam o Tom Zé que 2 anos depois lançaria álbum homônino, que seria rebatizado nos anos 80 de Se o Caso é Chorar (1972). Neste álbum de 1970, podemos encontrar um Tom Zé ainda preocupado com o formato tradicional da canção, flertando com a jovem guarda, distorcendo algumas guitarras e, principalmente desenvolvendo seus jogos de palavras e inserindo exercícios de poesia concreta em parte das canções – destaca-se aqui a influência e participação direta de Augusto de Campos no álbum.

“Mas peraí: o Thiago coloca um disco na lista e tá falando de outro?”, você pode estar se perguntando, mas acontece que por um desses caprichos insanos dessas gravadoras brasileiras, no caso a RGE (atualmente Som Livre, braço fonográfico da Globo), o álbum teve uma reedição obscura em CD e depois cometeram o crime de fazer esta compilação “frankenstein” (20 Preferidas) que inclui todo o álbum de 1970 mais alguns singles lançados por Tom Zé na década de 60 e algumas faixas do pouco conhecido Nave Maria (1984). O resultado é uma colcha de retalhos que, apesar de descaracterizar um álbum inteiro de Tom Zé, serviu pra mim para ser a porta de entrada para a obra de um dos artistas mais completos e geniais que a música brasileira já viu e, principalmente, ouviu.

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Então é isso, 12 meses e 25 álbuns depois, estão aí os discos que mudaram minha vida e que continuam influenciando-a e abrindo novas portas. Claro que muitos outros poderiam estar nessa lista, mas estes 25 representam bem todos. Ou não…

continua