Arquivo para Caetano Veloso

40 minutos antes do nada

Posted in Genealogias de minhas paixões, homenagens with tags , , , , , , , , on 09/10/2011 by coelhoraposo

O grande Nelson admitindo seu rubro-negrismo. (foto retirada do Urublog: http://globoesporte.globo.com/platb/arthurmuhlenberg)

O grande tricolor Nelson Rodrigues dizia que o FLA x FLU começou “quarenta minutos antes do nada”. Isso talvez mostre a grandeza do maior clássico do futebol brasileiro. Difícil imaginar as tardes de domingo com um Maracanã lotado, não com 60 mil pessoas, mas com 160, 200 mil pessoas se apertando para ver desfilar no gramado bem cuidado do Estádio que carrega o nome do irmão rubro-negro de Rodrigues, o também jornalista Mário Filho; as estrelas da constelação das laranjeiras e a constelação da gávea.

Hoje teremos um Fla x Flu meio esquálido sem Zico, sem Rivelino, sem Ronaldinho Gaúcho, sem Fred… Mas principalmente, teremos um Fla x Flu sem o palco maior do futebol mundial. O Maracanã não mais existe, o estádio que ora é reformado por obscenos mais R$ 1.000.000.000,00 ainda carregará o nome, mas a mística, a história, os momentos de histeria coletiva e de silêncios ensurdecedores, essas ficarão no passado…

Mas algo que o Engenhão, vulgo Vazião, poderá testemunhar hoje em seu gramado de várzea será o surgimento do campeão brasileiro de 2011. Não tenho a menor dúvida que, caso haja vencedor, o jogo de hoje servirá para indicar qual torcida gritará “É campeão!” no dia 03 de dezembro próximo.

Eu gritarei “É hepta na raça!”. E você?

Big Bang Bang (ouça aqui!)
(Caetano Veloso/Zé Miguel Wisnik, para o espetáculo “Onqotô” – Grupo Corpo)

se tudo começou no big bang
só tinha que acabar no big mac
mas
se a partida já estava começada
quarenta minutos antes do nada
então
é
fla-flu
então
é
maracanã
lotado
de
pulsão
de
mais
e
o
sopro
divino
criador
cantou
fla-flu
faça

se
a
luz
flato-flou
flight-flucht
fiat lux
ptyx
e
expulsou
o
universo
do
universo
um

red hot + rio volume 2

Posted in estante, musique non stop, revisão crítica with tags , , , , , , on 19/07/2011 by coelhoraposo

Quinze anos depois de produzir o interessantíssimo Red Hot + Rio, que presta homenagem a Bossa Nova, balançando o coreto com interpretações inesperadamente marcantes (como Cesária Évora, Ryuichi Sakamoto e Caetano cantando “É preciso perdoar” e David Byrne e Marisa Monte cantando “Águas de Março”), a Organização Red Hot, conhecida por angariar fundos para projetos contra a AIDS, lança um robusto álbum duplo como o segundo álbum homenageando a música brasileira.

Este Red Hot + Rio 2 é o décimo-sétimo lançamento da Red Hot, que tem álbuns memoráveis como o Red Hot + Rhapsody (em homenagem a George Gershwin); e homenageia, digamos assim, a tropicália. Segue a mesma fórmula de apresentar remixes, versões mais modernosas e músicas de artistas brasileiros da atualidade  muito boas (outras nem tanto). O resultado final é uma mistura, uma geléia geral como diria o guru da tropicália, Torquato Neto. Mas tenho a leve impressão de que a receita dessa geléia foi um tanto quanto exagerada. Perderam um pouco o ponto. O resultado ficou um tanto quanto esquizofrênico. Mas e daí? Adoro coisas esquizóides mesmo. Então vale a pena sim escutar/baixar/comprar porque os bons momentos das mais de 2 horas de audição acabam por eclipsar os exageros ou os desentendimentos de parte dos intérpretes, produtores etc.

Destaque para “Tropicalia” (Beck + Seu Jorge), “Um Canto de Afoxé para o Bloco do Ilê” (SuperHuman + Cults), “Aquele Abraço” (Forró In The Dark + Brazilian Girls + Angélique Kidjo), “It’s a Long Way” (Apollo Nove + Céu + N.A.S.A.), “A Cidade” (DJ Dolores + Eugene Hutz + Otto + Fred 04 + Isaar), “Bat Macumba” (Of Montreal + Sérgio Dias), “Águas de Março” (Atom + Toshiyuki Yasuda Feat. Fernanda Takai + Moreno Veloso), “Ogodô, Ano 2000” (Javelin + Tom Zé), “O Leãozinho” (Beirut) e uma versão de “Acabou Chorare” que tem um valor histórico à parte por ser interpretada por Bebel Gilberto, a filha daquele que mudou radicalmente o rumo da musicalidade dos Novos Baianos (antes ele já tinha mudado a história da música popular): João Gilberto.

Um destaque individual fica para a cantora/compositora folk californiana chamada Mia Doi Todd, que encara “Canto de Iemanjá”, de Baden Powell e Vinícius com muita atitude (além de um português bem ensaiado, tanto nessa música que faz parte dos Afrosambas, quanto em “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”, de Márcio e Lô Borges). Taí, comprar esse CD valeu a pena só por conhecê-la (ok, isso foi exagero).

Aqui uma provinha do primeiro Red Hot + Rio com a divina Cesária Évora acompanhada de Caetano e Sakamoto:

E agora um pouquinho da Mia Doi Todd, apresentando parte de Canto de Iemanjá (que faz parte de seu último álbum, Cosmic Ocean Ship):